segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Autoestima


Matéria publicada na Revista Isto É e que vale a pena ser reproduzida.


Antes de ler esta reportagem pare diante do espelho e faça um exercício sincero com você mesmo. Diga dez qualidades suas. Aponte também pelo menos cinco partes do corpo que lhe agradam. Observe ainda se é capaz de contabilizar mais pontos positivos do que negativos durante seu dia. Lembre o nome de cinco amigos que não são colegas de trabalho. E, com honestidade, assuma seus erros mais recentes.


Não conseguiu? Sinal de que a autoestima vai mal - e isso pode prejudicar muito a vida de alguém.


A falta de amor-próprio é um problema histórico do brasileiro, dono de uma autoimagem derrotista. Estudo da International Stress Management Association no Brasil (Isma- BR) aponta que 59% das pessoas no País têm pouca confiança em si. Quem tem baixa autoestima acaba atropelado pelo dinamismo do mundo, ou reage com violência às frustrações, ou mascara a insegurança com símbolos de status. O resultado vai de um simples incômodo a distúrbios mentais graves. Por isso, estimar-se é uma necessidade vital, que não tem nada a ver com arrogância, como se acreditava até 15 anos atrás.


Olhar-se no espelho disposto a fazer uma autoanálise é o primeiro passo para resgatar a autoestima. "Observar-se e perguntar 'o que há de melhor em mim' é um caminho para mudar o ponto de vista sobre quem você é, iniciando o processo de conhecimento interior", diz o consultor Sergio Savian, diretor da Escola de Relacionamento Mudança de Hábito, em São Paulo. Hoje, aprender a dizer "eu me amo" é compreendido como uma atitude saudável e indispensável para se sentir pleno.


Por causa desta crença, estima-se que tenha aumentado em até 20% a procura por cursos e terapias com a finalidade de trabalhar a autoestima desde meados da década passada. Enaltecer em excesso a humildade e tachar pessoas seguras de metidas está em desuso. Uma série de pesquisas indicando as evidências positivas da autoconfiança reforça essa tese. A mais recente é da Universidade da Califórnia, publicada no mês passado no "Journal of Personality and Social Psychology", na qual os pesquisadores comprovam que pessoas com baixa autoestima estão mais sujeitas à depressão.


RISCO

Pessoas com baixa autoestima estão mais sujeitas a ter depressão, segundo pesquisas
Há empresas que já entenderam a importância de reforçar a confiança dos funcionários. Perceberam que o assédio moral - quando há ameaças e humilhações - só resulta em queda de rendimento e pessoas infelizes. Uma equipe em equilíbrio gera melhores resultados, é comprometida e responsável. "As novas gerações não querem o stress que consumiu seus pais. Ou as empresas mudam, ou não conseguirão recrutar os bons profissionais", afirma o headhunter Ivan Witt, sócio-diretor da Steer Recursos Humanos. Um ambiente sadio, motivador e flexível, que permita ao funcionário se sentir especial, provocará uma revolução no mundo corporativo.
Antenada com a tendência, a siderúrgica ArcelorMittal Tubarão, no Espírito Santo, desenvolveu programas pensando na saúde global dos empregados, com foco na autoestima deles e de suas famílias. Em encontros periódicos orientados por psicólogos, questões ligadas ao bemestar são tratadas de maneira integral. Saúde física, emocional, relações afetivas e até sugestões de como lidar com dinheiro estão na pauta das reuniões.


VOLTA POR CIMA

Daniela Assunção refez a vida após uma relação difícil. "Incluímos os familiares ao percebermos que os problemas do funcionário não são isolados", diz a assistente social Sandra Sabadini, coordenadora dos programas. Mais de 80% da equipe já participou. A pressão e a cobrança do mercado existem. Porém, eles reagem melhor a esses desafios por estarem serenos. Nas avaliações internas, dão média 9 aos projetos. Segundo um estudo da Case Western Reserve University, quando são demitidos, indivíduos com boa autoestima culpam menos a crise e não sentem tanta raiva e pânico.


A confiança em si não excluirá tristezas e erros. Ajuda, porém, a lidar melhor com as adversidades, analisar os problemas, aprender com eles e seguir em frente. Sem drama, sabendo ouvir e sem culpar os demais - atitudes inerentes a quem tem baixa autoestima. A arquiteta Daniela Assunção, 34 anos, aprendeu isso, duramente, na prática. Ela viu um furacão passar em sua vida com o fim de um relacionamento de 11 anos. "Não sabia dizer não, me mesclei demais ao outro", conta. No final, nem identificava mais quais eram os seus reais desejos.

PASSADO

A situação-limite aconteceu há cinco anos, quando descobriu que o ex tinha outra há meses. Além do amor, Daniela perdia o emprego na loja dele. Ainda assim, chegou a pedir para reatar. Comentários como "você é linda, nem precisa ficar triste" a deixavam pior. "Como se ser bonita me impedisse de sofrer", diz. Por três meses, não saiu de casa. Quando tomou coragem, viu que não sabia nem mais conversar. Foi o alerta de que uma mudança era urgente.
Daniela passou a escrever sobre seus sentimentos e a conversar na internet com pessoas na mesma situação. Deu início à sua autocura. Fez terapia, viajou pela Europa, aprendeu a meditar. "Me dei conta de que não preciso temer o erro", diz. Agora, se dedica à consultoria em feng shui (técnica oriental de harmonização dos ambientes). Está solteira e feliz. "Pretendente não falta", brinca. Não ter medo de errar, como percebeu Daniela, é uma das principais características daqueles que têm autoestima. "Todos nós fracassamos em algum momento", disse à ISTOÉ o psiquiatra francês Christophe André, autor do livro "Imperfeitos, Livres e Felizes". "É preciso aprender a se perdoar e seguir em frente." Saber estimar-se verdadeiramente inclui não ter vergonha de desistir, de dizer "não sei", admitir que está com medo, que precisa de ajuda, tirar lições dos erros e deixar para trás as feridas.


Terapia em grupo é uma saída para quem precisa dar o primeiro passo da reconstrução pessoal. Foi o caminho que a escritora Gisela Rao, 44 anos, escolheu, para ajudar uma amiga. Em 2000 ela fundou um grupo no prédio onde morava para trabalhar a autoestima de mulheres em relações que ela chama de tóxicas. "Eu mesma venho de uma família com baixa autoestima", diz. "Por isso, repeti um padrão, me interessando por homens rejeitadores e que me faziam mal." Auxiliar o próximo eleva a crença na própria capacidade - como fez Gisela. "O egoísta nunca está feliz", diz o consultor Savian. A escritora gostou tanto da experiência que a desengavetou este ano, criando o divertido blog Vigilantes da Autoestima.


SINTONIA

Reforçar a confiança dos funcionários gera melhoresresultados para as empresas. O desafio de Gisela é vigiar a segurança dela mesma durante 365 dias e servir de exemplo para as seguidoras do seu blog. "Minha autoestima triplicou", diz. Ela retomou os encontros com outras mulheres para discutir segurança, otimismo, autoaceitação. Em clima descontraído e com o respaldo de psicólogas, as reuniões acontecem uma vez por mês em São Paulo. Ao final dos 365 dias, lançará o livro com o nome do blog.

Nenhum comentário:

Postar um comentário